sábado, 30 de agosto de 2014

Caminho de Santiago Central Português - Parte 2

Dia 6 – Rubiães a Tui – 23 km

Um dia com um trajecto previsto consideravelmente curto, mas sem dúvida dos mais especiais, primeiro porque a paisagem muda radicalmente, segundo pela travessia da fronteira, ter a consciência que chegamos ao país vizinho sem necessidade de meios de transporte motorizados dá-nos uma sensação de vitória. O dia (ainda noite cerrada) começou fresco, bem agradável para caminhar, como habitual a roupa ia pendurada nas mochilas a secar, motivado principalmente pelo pouco tempo que estiveram a secar no dia anterior pois um sujeito com alguma “piada” programou a máquina de lavar para mais de 3h por causa de dois pares de meias… Para ajudar a confusão matinal, levaram a toalha de banho da Andreia que estava a secar! Só mesmo antes de arrancarmos é que apareceu um alemão que a tinha utilizado por engano, tudo para acordarmos em festa e começar bem o dia! Caminhamos com alguma calma, quase sempre por zonas muito verdejantes, a quantidade de amoras era impressionante encontramos uma zona junto a uma fonte onde degustamos uma quantidade considerável, deliciosas, frescas e bem “à mão de semear”. 

Chegamos a Valença quase na hora de almoço e aproveitamos para almoçar pela última vez desta viagem em território Português. Almoçamos bem e a sangria bem fresca deu-nos força para suportar o calor que se fazia sentir, passeamos pelo forte e descansamos algum tempo no forte, no relvado sobre a sombra das árvores e com uma agradável brisa relaxamos quase duas horas, com o rio Minho e Espanha como paisagem de fundo. A travessia da ponte foi o momento mais entusiasmante, carismático e divertido do dia. A partir deste ponto encontram-se Portugueses, aparentemente a maior parte deles inicia o seu trajecto de peregrinação aqui. Os poucos quilómetros que tínhamos de percorrer até ao Albergue de Tui demoram mais que o previsto, o calor era muito e com a paragem de almoço caminhar custava ainda mais, para dificultar um pouco mais não se encontram indicações do caminho com a mesma frequência que em Portugal e não vimos uma única referência para o albergue. Fomos ao ponto de turismo e afinal o albergue era bem próximo…

Uma conversa rápida com a recepção e fomos aconselhados a pernoitar no dia seguinte em Mós (teoricamente menos utilizado e com melhor distribuição das tiradas. Os pais da Andreia vieram fazer uma visita a Tui, trouxeram um jantar leve que devoramos como uns alarves! Durante a noite um festival hard metal trouxe animação à vizinhança, pelo que ouvi comentar calaram-se por volta das 4 horas da madrugada, eu dormi profundamente, não ouvi absolutamente nada e usufrui de uma noite verdadeiramente revigorante.


Dia 7 – Tui a Mós – 24 km

A festa gótica a poucos metros do albergue não tirou o sono a ninguém, pelo que só notamos os elevados decibéis assim que saímos do albergue durante a madrugada. Acordamos bem cedo e mudamos a nossa filosofia de caminhada tendo como objectivo chegar ao nosso destino na hora de almoço pois chegamos à conclusão que era o método mais adequado para nós. A paragem para almoço permitia relaxar os pés, músculos e estômago, mas arrancar após esta paragem de tempo grande tornava-se muito penoso, além de que as temperaturas eram altas ajudando a desidratação, desânimo e aumentando a dificuldade.

Caminhávamos na escuridão com as lanternas de mineiro ligadas e com um elevado nível de boa disposição, até que demos pelos narizes a tentar farejar o cheiro de pão acabado de cozer… Encontramos uma padaria com a porta entreaberta e as luzes apagadas, batemos à porta e vieram receber-nos com um sorriso! Sonhávamos com pão quente com manteiga, mas lamentavelmente ainda não tinham pão fresco, os bolos que estavam no expositor eram do dia anterior e não os queriam vender, mas de seguida informaram que os croissants tinham acabado de sair do forno, pelo que, não tardaram nada a aquecer-nos o espírito, estas surpresas são sem dúvida agradabilíssimas e que adoçam a nossa viagem. 

Antes da área industrial tivemos opção de um caminho alternativo sugerido como “mais interessante”, no entanto, como queríamos manter o percurso original seguimos as tradicionais setas amarelas. Esta opção deixou-nos desiludidos pela longa travessia na área industrial sem interesse com aspeto cinzento e triste, mesmo assim considero que tivemos alguma sorte por percorrermos esta zona num Domingo pelo que o trânsito era inexistente e o ruído era pouco. Optamos pela estadia em Mós onde constatamos que o albergue era agradável, mas pequeno, tivemos sorte pela hora da chegada que permitiu-nos descansar uma boa parte da tarde. Um grupo com cerca de quinze escutistas que arrancou de Valença neste dia, chegou ao albergue às 18h vendo o seu acesso negado, pelo que nos disseram no dia seguinte que tiveram de caminhar mais 10 quilómetros e pedir alojamento num posto da polícia que conseguiu ceder um espaço para dormida no quartel dos bombeiros. É um risco percorrer o caminho de Santiago com um grupo grande caso pretendam ficar todos no mesmo alojamento. Depois de uma pequena passeata, muito pequenas pois as bolhas não permitem grandes viagens, sem muitas alternativas para jantar fomos a um dos dois restaurantes locais em que ambos disponibilizavam menus de peregrino. Deitar cedo é das melhores opções para uma boa gestão de esforço e assim o fizemos!


Dia 8 – Mós a Pontevedra – 32 km

Caminhar junto ao rio pelo meio das ervas altas carregadas de orvalho, ouvir a natureza a acordar longe dos ruídos da cidade e ver o nascer do sol a limpar as nuvens do céu acalma-nos o espírito. Numa noite cerrada e com muito frio matinal eram poucas as luzes artificiais além das nossas lanternas e uma neblina fantasmagórica. O céu limpo e a praticamente inexistência de luar permitia contemplar as estrelas e apreciar o suave amanhecer. Em Espanha somos “obrigados” a esperar pelas 8 ou 9 horas da manhã para poder tomar um café, agravado ainda pela quantidade diminuta de cafés existentes, pelo que só em Redondela conseguimos tomar a bebida energética necessária para acordar definitivamente.

Durante este dia foram muitas as vezes que percorremos junto da estrada nacional 550 e por diversas vezes fomos obrigados a atravessá-la, algo curioso, durante este dia percorremos paisagens fantásticas em trilhos isolados contrastando com zonas citadinas extremamente movimentadas. Após a travessia do rio Verdugo pela ponte romana aproveitamos para descansar as pernas na praia fluvial. Um local pitoresco e interessante com a enseada e a linha de comboio como pano de fundo, após alguma fotossíntese e um gelado continuamos a nossa caminhada. Pode ser apenas psicológico, mas a “barreira” dos 30km parece tornar os dias mais longos e um ponto antes desta distância o cansaço começa a ser refletido por todos os músculos, os pés começam a ceder e evitamos parar para que a dor provocada pelas bolhas dos pés não “reaparecer” após as paragens. Quando temos bolhas nos pés os primeiros minutos de caminhada são os mais dolorosos, com uma sensação de que as dores provocadas pelas bolhas são mais intensas enquanto estas não acamam, ou seja, no final dos dias mais longos evitamos ao máximo as paragens.

O albergue de Pontevedra tem uma enorme sala para muitos peregrinos, os cheiros são desagradavelmente intensos e o ruído é maior, existe sempre alguém a procurar algo na mochila, alguém a dormir e consequentemente a ressonar e sempre pessoas a sair e a entrar, concluindo que os pequenos albergues são mais sossegados e tranquilos. Com a tarde livre relaxamos um pouco a ir ao centro de Pontevedra e aproveitando para fazer as compras para o jantar, após isso descansamos pelos espaços relvados do albergue que já se encontrava totalmente lotado. Vimos alguns panfletos interessantes, um dos quais em que o caminho de Santiago era percorrido de barco até Pontecesures. Parecia interessante até perceber que se tratava de fazer uma distância maior num barco a remos…


Dia 9 – Pontevedra a Caldas de Rey – 28 km

Atravessar Pontevedra pela madrugada deu-nos uma perspetiva muito interessante da cidade, a neblina matinal e o silêncio associavam-se aos filmes de terror e aos momentos que antecedem o aparecimento do assassino, obviamente era um ambiente curioso, mas extremamente interessante passear por uma cidade destas, totalmente deserta. O contraste de sair de uma cidade histórica e regressar ao caminho por entre bosques e a natureza, com pontes pitorescas e assistir novamente ao nascer do dia e ouvir a vida a despertar, também nos dá uma nova vida.

Após caminhar uns dez quilómetros, no meio do “nada” ofereceram um panfleto promocional de pequeno almoço, na aldeia seguinte a cerca de trinta minutos de caminho. Uma vez que a fome já apertava e mais ainda a necessidade de um café, paramos para o pequeno almoço em que tinha como oferta uma lembrança, uma vieira com a mensagem “Una tortuga conoce mejor el camino que una liebre”. Facto curioso, mas a verdade é que percorrer um caminho a pé dá-nos uma perceção totalmente diferente e a partir deste momento questionamos dezenas de vezes se ao passar por um determinado local num veículo motorizado conseguiríamos ter a mesma visão e valorizar o que calmamente observávamos. Ao fim da manhã encontramos um peregrino a lavar as suas mantas num tanque público, o que nos intrigou, mas apenas descobrimos o motivo no dia seguinte. Próximos de Caldas de Rey a Proteção Civil percorria o caminho de Santiago a questionar os peregrinos e questionava se estava tudo a correr como expectável e se não tínhamos verificado nenhuma situação suspeita. Esta questão deixou-nos com um misto de preocupação e desconfiança, mas esclareceram-nos que era prática habitual e que este procedimento seria apenas para tranquilizar os peregrinos.

Não eram duas da tarde e já existia espera para entrada no albergue de Dona Urraca, com nome em honra à mãe de Dão Afonso Henriques. O local era agradável e como chegamos cedo e praticamente sem dores fomos passear pela cidade termal em busca das fontes de água quente. Aproveitamos para colocar os pés de molho e relaxar num tanque para o efeito, a água estava extremamente quente, mas a sensação psicológica de relaxamento compensava e as conversas eram à volta do que já tínhamos feito e o quão pouco faltava para terminarmos a nossa epopeia.


Dia 10 – Caldas de Rey a Téo – 32 km

Noite mal dormida, conforme nos aproximamos de Santiago o tamanho dos albergues diminui e o mau cheiro aumenta. A intensidade do cheiro a suor é imensa e nestes momentos lamentamo-nos por termos de fazer uma peregrinação destas no final de Agosto. O Eduardo estava com dores nos tendões, essencialmente provocado pelo peso não ser distribuído por bastões. Foram necessárias algumas massagens e medicação para conseguir continuar caminho. Os meus pés já estavam habituados às bolhas e com alguns metros de “aquecimento” as dores praticamente desapareciam e podia seguir caminho sem dificuldades. Optamos por uma etapa mais longa e deixar o último dia com uma distância por percorrer curta, o que se traduziu numa etapa a ultrapassar novamente a barreira dos trinta quilómetros. Neste dia caminhamos num ritmo praticamente automático, o cérebro praticamente desliga-se e fica focado apenas em caminhar, a observação passa a ser automática e parece que alinhamos a nossa energia com a natureza. Não sei se por este motivo, ao tirar uma foto uma vespa asiática (não consegui distingui-la, mas posteriormente informaram-me que estava a verificar-se uma quantidade enorme de vespas nesta região) atacou-me durante um momento em que estava a tirar uma fotografia, o que se traduziu num voo de longo alcance do telemóvel, além de ter praguejado mais do que devia...

Este dia passou rapidamente por mais um misto entre vinhas, montanhas e estradas movimentadas. O número de peregrinos é significativamente maior e são difíceis os momentos que percorremos sozinhos. O albergue de Téo deixou-nos totalmente desiludidos, a nossa chegada à hora de almoço a uma casa com a porta aberta e clara noção de pouco cuidado deixou-nos com algum receio e principalmente desconfiança. Mesmo sem ninguém na receção que continha um aviso a indicar que a abertura seria às 19h, subimos ao primeiro andar e ocupamos os beliches a nosso gosto. Ao olhar para o teto estranhamos a existência de inúmeras marcas de sangue em todas as direções, imagem desagradável, que julgávamos ter sido causada ao longo de longos anos com pouca manutenção, mas estávamos enganados! Um painel na zona de receção pedia aos peregrinos cuidado acrescido com a higiene uma vez que estiveram encerrados recentemente motivado por uma infestação de “chinches”, ao que subimos novamente ao primeiro piso e lá estavam eles, dezenas (talvez centenas) de percevejos por todo o lado, nos locais mais recônditos e inesperáveis. Durante umas duas horas estivemos num misto de entretenimento e fúria com caça o chinche recorrendo aos bastões, botas e outros utensílios que nos permitissem resolver o problema o mais rapidamente possível. A alternativa de ir para outro albergue obrigaria a caminhar uma distância considerável que ultrapassava as nossas forças pelo que suportamos em passar a noite nestas condições. Durante a tarde o albergue encheu rapidamente e entre um largo número de peregrinos Portugueses um casal Espanhol percorria o caminho com os seus dois filhos. Cada membro familiar trazia a sua própria mochila, o mais novo deveria ter cerca de 12 anos e assim que os pais disseram que iriam pernoitar ali, atirou a mochila para o chão e começou a correr e a saltar. Percorreu-me um sentimento de estranheza e alguma inveja, as dores de colocar os pés no chão eram muitas e um jovem com toda aquela energia fez-me sentir totalmente parvo! Felicidade a dele, mas senti que estaria a gozar com os “velhinhos” como eu…

Jantamos no restaurante mais próximo onde nos reunimos com um grupo de Portugueses que nos contaram a “história de António”. No dia anterior cruzámos-nos por um peregrino a lavar mantas num tanque público, um peregrino que seguia em direção a Fátima ao cruzar-se com este grupo de Portugueses deu-lhes um pacote de bolachas já semiaberto pedindo para entregar o mesmo ao peregrino que iriam encontrar uns metros à frente junto a um tanque, dizendo-lhes que “estas bolachas fazem me falta, mas fazem mais falta a esse peregrino, por favor dêem-lhe o resto deste pacote”. António de seu nome, era um Português que após um acidente recebeu a triste notícia de que não iria voltar a caminhar. Este prometeu a Santiago que se voltasse a andar iria percorrer os caminhos de Santiago. Assim o fez e já percorria os caminhos há alguns meses, mas a sua pensão de invalidez que deveria chegar no início do mês estava atrasada e já perfaziam três dias que dormia ao relento e não tinha dinheiro para uma refeição quente. Como um azar nunca vem só, após dormir num banco de jardim envolto nas suas mantas, ausentou-se uns minutos para tratar da sua higiene num local mais recatado, mas apareceram alguns cães que lhe urinaram as mantas. A solidariedade fez com que este grupo de Portugueses lhe desse algum dinheiro que este agradeceu com lágrimas no rosto pelo acesso a uma noite protegido e a uma refeição quente. São estes momentos que nos apercebemos de qual o verdadeiro significado do caminho, da partilha, de percorrer uma viagem e termos a capacidade de aceitar os outros como iguais.


Dia 11 – Téo a Santiago de Compostela – 18 km

Quando acordei dei conta que a Andreia já estava a pé, aparentemente há bastante tempo, o pouco que dormiu foi com muito calor de estar totalmente dentro do saco cama, 100% fechado com receio dos percevejos. Não ficou apenas pelo receio, a quantidade de percevejos era assustadora, os bichitos escondem-se nas costuras das mochilas e da roupa piorando o facto de serem escuros e pequenos, quase imperceptíveis. Perdemos mais de uma hora para efectuar a análise e limpeza de material antes de o guardar na mochila e ficamos irritados pelas condições do albergue. A habitual vontade de encontrar um café para ajudar o despertar era maior que o habitual e o mau humor de uma noite má dormida estava bem presente.

Ao terminar a subida na última serra avista-se Santiago de Compostela ao longe, como um postal, com dificuldade encontramos a catedral que temos como objetivo. A caminhada era bem mais animada e o episódio dos “chinches” começava a ser esquecido. Entrando em Santiago as indicações desaparecem, as setas amarelas não se encontram na cidade e vamos questionando com frequência se seguimos o percurso certo, pois um erro numa caminhada é pago não só em tempo como em esforço. Finalmente a população aumentava e notávamos que estávamos próximos do centro, paramos num posto de turismo em que a funcionária destacou as várias possibilidades das diversas entradas dos caminhos de peregrinação até à catedral.

Chegamos à catedral!!! O peso da mochila sai-nos das costas e respiramos profundamente, os sorrisos dos peregrinos em nosso redor é contagiante, também nós sorrimos, também nós pousamos o nosso fardo e ficamos a contemplar a catedral. Na realidade não é na catedral que a nossa mente está focada, mas sim em todo o caminho que percorremos nestes dias, nas histórias que cravamos na mente e na beleza tão simples de caminhar. Dirigimos-nos à secretaria para recebermos a merecida Compostela, pelo caminho fomos à fonte dos cavalos para regressarmos a Santiago de Compostela. Na fila de espera da secretaria observamos os rostos dos peregrinos que aguardam o certificado, entram com um sorriso, saem com lágrimas de felicidade abraçando os seus amigos. Chega a minha vez, perguntam porque motivo fiz o caminho e respondo quais razões me levaram a esta viagem. Questionam qual o meu nome, a funcionária que me atende escreve-o em latim na Compostela, lê-o em voz alta, coloca o último carimbo na credencial e entrega-me com um largo sorriso. Por vezes não são necessárias palavras para transmitir sentimentos, os olhos cintilam e ao chegar ao exterior dou um forte abraço à minha esposa. A nossa etapa terminava aqui, mas a nossa viagem ainda está no início…


Nota pessoal


Considerei esta experiência das mais interessantes que fiz até hoje, as paisagens que vimos, os trilhos que percorremos, a partilha de experiências e todas as motivações que nos levam a percorrer o “caminho” faz-nos crescer. Cada um tem os seus motivos, cada um percorre o caminho a seu ritmo, esteja este sozinho ou acompanhado. Foram muitos os momentos em que as dores nos pés eram intensas, mas nem por um segundo ponderei desistir. Mais uma vez reaprendi que o importante nunca é o destino, mas sim a viagem…

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Caminho de Santiago Central Português - Parte 1

Dia 2 – Canelas (Rechousa) a Vilar – 30 km

Acordamos com um dia chuvoso e intenso nevoeiro, prometiam não facilitar o nosso caminho. Ajustamos uma vez mais as mochilas e de repente decidimos em não levar a colchonete, não só pelo peso, mas principalmente pelas suas dimensões (descobrimos posteriormente que foi aposta acertada). Recorremos ao guarda-chuva e ao casaco quase impermeável para nos protegermos da chuva, de seguida iniciamos o caminho com muitas incertezas mas muito entusiasmo, tudo isto era novo para nós e embora eu já tivesse experiência de algumas caminhadas no tempo de escutista, esta viagem seria totalmente diferente. O dia anterior, mesmo com uma etapa tão curta e sem a mochila já me tinha presenteado com uma bolha, conhecendo os meus pés já estava a contar com isso, mas não tão depressa...

Até chegar à ponte D. Luís não há nada de novo para ver, mas do cimo do rio a paisagem para ambas as ribeiras (Gaia e Porto) é fenomenal, mesmo no alto do tabuleiro superior sentimos-nos pequeninos com o contraste da Serra do Pilar. Não faltam indicações, basta procurar as setas amarelas e são realmente muitas, algumas pintadas com recurso a uma trincha outras com aspecto profissional, mas não que há enganar, se não encontrarem nenhuma indicação durante umas centenas de metros seguidas provavelmente perderam a saída. Após à Sé do Porto existem duas opções (eu prefiro ir pela esquerda e espreitar a paisagem), mais à frente após a Igreja da Misericórdia podemos seguir em frente e ir por Braga, ou virar à esquerda em direcção a Barcelos (o caminho de Braga ficou para uma próxima). Continuando o caminho oficial chegamos à Rua de Recarei, esta é enorme! Pelos guias que tinha lido existia uma alternativa que iria atravessa a N14, tínhamos planeado seguir este caminho, mas não nos deparamos com a saída e continuamos “sempre em frente”. Ponderamos pernoitar em Vilar de Pinheiro, mas continuamos mais um pouco (não nos sentíamos cansados e ainda era cedo) como tal paramos em Vilar, procuramos alojamento de peregrinos, mas sem sucesso. Como estávamos próximos de casa, pedimos à mãe da Andreia que fez o favor de nos vir buscar para irmos dormir a casa.


Dia 3 – Vilar a Barcelos – 39 km

A “sogrinha” madrugou e fez novamente o favor de nos levar de volta até ao ponto de paragem do dia anterior, o céu já não ameaçava mau tempo e a previsão meteorológica não sugeria chuva para os dias seguintes, mesmo assim levamos uns ponchos impermeáveis por precaução, que só no final da viagem iriam confirmar se foram boa ou má opção. Com nevoeiro cerrado, por estradas em paralelo envoltas por enormes milheirais, raras vezes nos cruzávamos com viaturas ou peões. O burburinho e agitação das cidades ficava cada vez mais longe e embora estivéssemos perto do Porto tínhamos a sensação de que já estávamos longe de casa e qualquer civilização, as pernas moviam-se mecanicamente, a sensação de peregrinação invadia a mente e sem qualquer plano para o momento seguinte limitávamos-nos a caminhar. A estimativa que tinha feito no dia anterior previa entre 28 a 30 km para este trajecto, mas ao chegar a São Pedro de Rates com mais de 20km feitos torci o nariz com desconfiança…

Fomos a um bar para almoçar qualquer coisa leve e com satisfação vimos o orgulho do dono do bar ao receber peregrinos, fez questão que assinássemos o livro de presenças (já tinha uma meia dúzia de livros totalmente preenchidos) e tirou uma foto connosco. Conversamos durante algum tempo e confirmou-me que até ao albergue em Barcelos esperavam-nos mais de 16km, o que nos deixou algo desanimados, as bolhas já me incomodavam muito, as costas da Andreia queixavam-se do peso da mochila e o calor era muito. Não tínhamos alternativa, arrancamos no mesmo registo mecânico e automático mas a paisagem mudou negativamente, zonas habitacionais, estradas movimentadas e o cansaço não permitia usufruir do caminho com qualidade. Pouco antes de chegarmos a Barcelinhos estivemos a reajustar a mochila da Andreia, o peso estava praticamente totalmente assente nos ombros e não na cinta o que obrigou a paragens e cansaço desnecessário, fizemos os ajustes necessários e as diferenças foram substanciais! Uma mochila ajustada correctamente sente-se uma diminuição de carga considerável. 

Continuamos a caminhar e ao fim da tarde chegamos ao centro de Barcelos, sentamos-nos numa esplanada para um merecido gelado. Estávamos cansados, desgastados, sujos, plantas dos pés a arder mas com um elevado grau de satisfação pelo objectivo do dia estar concluído. Iniciamos o processo de fim do dia que viríamos a repetir constantemente: lavar roupa, tomar banho, hidratar os pés, desinfectar e furar as bolhas dos pés. Jantamos num restaurante bastante económico (3€ por pessoa) e fomos descansar para o albergue onde conhecemos um peregrino de Barcelona que tinha iniciado o caminho no Porto e várias vezes se cruzou connosco até à chegada a Santiago de Compostela, precisamente no mesmo dia. Durante essa conversa acompanhada com fumeiro fatiado, entre diversos assuntos confidenciou-nos das rivalidades existentes em Espanha entre as diversas províncias, encontrava-se um ciclista das Astúrias que tinha iniciado o caminho em Lisboa, rimo-nos em conjunto e qualquer rivalidade desapareceu! Foi tema de conversa o “Peter”, este peregrino tinha começado a sua viagem à mais de um ano na Polónia, caminhou até Roma, decidiu continuar até Paris, sem desistir desceu até Saint Jean Pied de Port, percorreu o caminho Francês até Santiago de Compostela e quando chegou, algo o impediu de parar, pelo que seguiu em direcção a Fátima, cruzamo-nos com ele no primeiro dia da nossa jornada e descobrimos agora que tem um limite de 6€ diários… Percorreu milhares de kms com este limite, sem desistir, dormindo em mosteiros, albergues gratuitos, igrejas ou mesmo cemitérios ao relento. Ficamos com um brilhozinho nos olhos após esta conversa, sentimos-nos privilegiados e adormecemos tranquilos e em paz.


Dia 4 – Barcelos a Ponte de Lima – 36 km

Pouca luz raiava e o Eduardo e a Diana estavam à porta do Albergue para iniciarem o caminho deles e seguirmos em grupo a partir deste ponto. O entusiasmo deles era muito, cantavam e saltavam de euforia, algo que prometi que ia desaparecer em breve (os saltos de alegria) e comprovei ter razão no próprio dia. Considero que este troço é dos mais bonitos do caminho, ofereceram-nos fisálias e maçãs pelo caminho demonstrando o melhor da simpatia minhota. Faltavam cerca de seis quilómetros e as minhas dores nos pés eram insuportáveis, paramos em frente a um albergue particular, mas o dono aparentemente alemão, atendeu-nos com má educação e antipatia o que nos deu mais vontade ainda de chegar à pousada de Ponte de Lima que era nosso objectivo inicial.

Continuamos, pendurava o corpo nos bastões transferindo o peso possível para os meus braços, cada passo era um verdadeiro martírio para os meus pés, com bastante sacrifício continuamos a evitar paragens, embora a paisagem fosse maravilhosa não queria parar um segundo que fosse. Ao passar um parque infantil ouvi uns transeuntes a comentar “Estes vão para Santiago de Compostela, já lá fui uma vez e foi uma estafa, custou-me muito!”, questionava a amiga “Foste a pé?”, resposta “Cruzes, credo! Não! Fui de autocarro!”, ri por dentro, respirei fundo e ganhei alguma vontade. Vimos a placa que anunciava 1 quilómetro de Ponte de Lima, este último quilómetro pareceu uma eternidade, assim que vimos a pousada suspiramos de alívio, a nossa jornada estava terminada por hoje! Não me mexi mais, telefonamos para a Telepizza e após um longo duche deixei arejar os pés, como sabe bem relaxar depois da dureza de um dia como este.


Dia 5 – Ponte de Lima a Rubiães – 24 km


Acordamos cedo, aproveitamos o pequeno-almoço reforçado da pousada e despedimo-nos educadamente do recepcionista maldisposto que amuou por termos interrompido o seu jogo de solitário. O descanso é revigorante, as dores nos pés não desaparecem, mas tornam-se aceitáveis depois de 5 minutos de aquecimento, fomos directamente ao centro de Ponte de Lima procurar uma farmácia pois precisávamos com urgência de pensos para bolhas (deixei de ser o único), encontramos uma de serviço e mais uma vez atenderam com muita má disposição ao que ainda responderam que se soubessem que não tínhamos receita médica não nos tinham atendido! Ignoramos, pagamos os artigos e seguimos caminho, afinal já não faltava muito para a serra da Labruja e precisávamos de boa disposição. Cruzamos-nos com um Limarense (habitante de Ponte de Lima) que nos desejou força para a Labruja, confidenciou-nos que foi ele que colocou a placa a informar Ponte de Lima a 1km e que o fez para dar ânimo aos peregrinos, embora esta indique a distância para a periferia de Ponte de Lima. Sorrimos, agradecemos a simpatia e seguimos para a etapa “assustadora” que estaria quase a começar…

Existe um pequeno café mesmo antes da subida, aproveitamos para saborear um gelado e relaxar um pouco junto dos muitos peregrinos que paravam aqui. Encontramos dois Portugueses que iniciavam neste dia o seu caminho, com mochila bem carregada, guitarra e um cavaquinho não se avizinhava fácil o percurso, desejamos-lhes força que certamente a tinham face à quantidade de cervejas com que se abasteceram :) . Iniciamos a subida, sem dúvida dura e bastante técnica, cruzamos-nos com um peregrino asiático em direcção a Fátima, com um enorme sorriso, espanto nosso quando demos conta que trazia o calçado na mão, totalmente descalço descia a calçada de paralelos e foi impossível compreender a nossa dificuldade e dor quando vimos aquele personagem com aquela facilidade. Um casal subia a Labruja de bicicleta, ou melhor, subiam a serra a pé carregando as bicicletas claramente com extrema dificuldade. Nas últimas centenas de metros a dificuldade da subida aumenta, os bastões são fantásticos nestas situações, as pernas querem ceder e o coração acelera mas aguenta-se! O miradouro no topo tranquiliza e o cansaço atenua, a fonte com água bem fresca torna-se no prémio, agora percebemos o motivo do sorriso do asiático e também nós sorrimos.

O resto do dia foi agradável, o albergue de Rubiães é fenomenal, quase lotado na recepção disseram-nos que “aqui ninguém tem de procurar outro local para dormir, arranjamos sempre mais um colchão e espaço para mais um peregrino”, verificamos que esta filosofia não se aplica em Espanha onde a lotação de um albergue é cumprida rigorosamente. Ainda fomos a um mini mercado “já ali” fazer as compras de mercearia necessária, já estava habituado à técnica de utilizar as sandálias com as meias grossas no final do dia e os dois kms de ida e volta não custaram quase nada, os momentos que caminhamos sem mochila sentimos-nos leves!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Caminho de Santiago Central Português - Preparativos


A chegada
Leram em voz alta o meu nome, em latim, recebi a merecida compostela com uma forte emoção de objectivo concretizado, agradeci comovido e observei um sincero sorriso e as palavras de parabéns da voluntária que me atendeu. Não é possível sentirmo-nos indiferentes quando atingimos uma meta como esta, pelo corpo e pela alma percorre-nos uma sensação de calma e bem-estar que nos deixa leves, o cansaço e as dores praticamente desapareceram e elevamos-nos em felicidade. Cruzamos peregrinos e nos seus olhares vemos as mesmas sensações e mesmo com o burburinho existente em Santiago sentimos que o silêncio impera e o tempo passa muito devagar, como se de um filme em câmara lenta se tratasse, em que observamos todo o cenário de um ponto exterior ao nosso corpo. Chegamos ao nosso destino, cumprimos o objectivo.

Preparativos
Há alguns anos que o sonho de ir a Santiago de Compostela, como peregrino, crescia. Sair de casa e colocar a minha vida no espaço disponível numa mochila, decidir o que é realmente importante com a consciência que cada artigo que leve serei obrigado a carregá-lo e o custo do seu peso será pago pelo meu cansaço, pelo peso nos ombros, pelo esforço das minhas pernas, pelas bolhas nos meus pés. Sem relógio no pulso, percorrer este longo percurso tendo uma longa conversa comigo mesmo. Tinha a necessidade de encontrar respostas que apenas eu poderia responder e seguir na epopeia para encontrar o cliché do “sentido da vida”. Estimando um percurso a ultrapassar os 250km e descartando a possibilidade de viajar de moto por questões económicas a Andreia alinhou, num estilo de férias bastante alternativo, ainda que um pouco relutante de início. 


Logística
Existem diversas lojas da especialidade de montanha e caminhada, mas a mais generalista com preços aceitáveis deverá ser a Decathlon. Encontramos uma funcionária de uma simpatia e conhecimentos fenomenais, que nos aconselhou quais os produtos a levar e qual a gama mais adequada para o que pretendiamos, “perdeu” algum tempo a dar algumas dicas que mais tarde considerei preciosas, as quais partilho convosco:
Material a levar
  • Mochila de 30 a 40 litros (no máximo 50)
  • Saco-cama para temperaturas adequadas à altura do ano
  • Toalha de banho (preferencialmente microfibra)
  • Poncho ou impermeável
  • Botas
  • Chinelos de banho
  • Calças (material que permita secar rapidamente)
  • Polar
  • Calções de banho
  • T-shirts (2 a 3)
  • Cuecas (2 a 3)
  • Meias (2 a 3)
  • Pijama
  • Documentos pessoais
  • Tampões ouvidos
  • Lanterna e canivete
  • Molas e sabão para a roupa
  • Kit higiene
  • Kit SOS
Calçado
  • Não utilizar calçado novo, regra habitual, mas que regularmente se esquece.
  • Preferencialmente utilizar botas, protegem os tornozelos e a probabilidade de entorse diminui.
  • Para escolher o calçado, devem encostar o pé totalmente à frente (encostar, não apertar), devendo ter espaço suficiente para colocar o dedo indicador entre o calcanhar e a parte de trás da bota. Com a bota correctamente apertada permitirá descer sem magoar os dedos ou unhas dos pés.

Mochila
  • Para longas caminhadas, devemos dar preferência a mochilas mais pequenas e leves. As cintas de cintura e dorso são essenciais para o conforto exigido. O ideal é experimentar a mochila com carga (cerca de 8 kg) e ajustá-la de forma a encontrar o modelo mais confortável e adequado.
  • A carga deverá estar bem distribuída, tentar manter o centro de gravidade no centro da mochila, caso tenha mais peso num lado que o outro distribuir melhor a carga.
  • O ajuste correcto deve ser feito com a mochila em carga, e a mesma deverá ficar ajustada e suportada apenas com a cinta de cintura, após estar suportada, devem ser ajustadas as alças de forma a sentirmos o ajuste nos ombros, não o peso da mochila.

Albergues
  • É utilizada a regra de que o primeiro a chegar ocupa o lugar.
  • A ordem de ocupação indicada é: Peregrino a pé -> Peregrino a cavalo - > Peregrino de bicicleta, mas caso já estejam no albergue não serão expulsos.
  • A ocupação dos albergues no período de férias de Verão atinge frequentemente os 100%.
  • Em Portugal caso os albergues tenham todas as camas ocupadas, são disponibilizados colchões e distribuídos por áreas comuns (salas ou mesmo corredores), como me informaram “ninguém fica a dormir na rua”.
  • Em Espanha os albergues não excedem o número de camas disponíveis. Caso a ocupação seja total é comum encontrar-se disponibilidade em pensões ou quartos de particulares, em alternativa podem ir até ao próximo albergue mas que poderá significar mais de uma dezena de quilómetros.
  • Os albergues são habitualmente mistos.
  • Embora seja entregue (habitualmente) uma fronha e um lençol descartável, é obrigatória a utilização de saco-cama.
  • Recomenda-se uma almofada insuflável para quem não quer utilizar as dos albergues ou gosta de dormir com os pés mais levantados.
  • Habitualmente existem estendais ou cordas disponíveis para secar a roupa, convém levar sabão para a lavar e molas para a pendurar.
  • É boa prática (por vezes obrigatório) deixar o calçado fora do quarto.
  • Existe quem durma em perfeito silêncio e existem os outros... Caso tenham um sono leve utilizem os tampões para os ouvidos.
  • O preço por pessoa ronda os 5€ em Portugal e 6€ em Espanha (2014).


Dia 1 – Grijó a Rechousa – 10 km
Com a companhia das “mamãs” fizemos uma pequena etapa de aquecimento, como somos de Canelas – Vila Nova de Gaia pareceu-nos fazer mais sentido começar no Mosteiro de Grijó, aproveitando para fazer uma etapa relativamente curta, com descontração e ainda sem mochilas. Chegando ao Mosteiro, e com as credenciais na mão, sentimos-nos desorientados ao ver as portas do Mosteiro encerradas e questionando-nos onde podemos ter o nosso primeiro carimbo, o de partida! Não sabíamos os procedimentos e como deveríamos agir. Mesmo ao lado está a junta de Freguesia de Grijó e aproveitamos para tirar as nossas dúvidas se teria algum carimbo escondido no exterior ou se teríamos de aguardar a abertura do mesmo, “- É mesmo aqui que carimbam a credencial” respondeu a funcionária que rapidamente as carimbou e de imediato passou pela cabeça a sensação de “começa aqui...”.

Percurso curto até à Rechousa e sendo nas nossas redondezas, bastante conhecido, mesmo assim quando vamos a pé, a perspectiva de como vemos as coisas muda bastante comparativamente com os passeios de bicicleta ou de moto. Embora pertença à região do Grande Porto, caminhamos por zonas agrícolas em que milheirais e campos de kiwi ocupam enormes terrenos, obviamente que a sensação de tamanho muda substancialmente quando caminhamos. Cruzamos diversos tanques comuns e observamos outros pormenores aos quais nunca demos atenção. Em Perosinho o caminho está identificado com sinalização específica para o efeito e na junta de Freguesia ofereceram-nos uma lembrança alegando as festividades do Caminho de Santigo em 2013



Chegamos à Serra de Canelas (embora o seu nome seja Serra de Negrelos) e iniciamos a dura “subida da resistência”, assim denominada devido à sua altimetria e pelas subidas de cerca de três metros sempre alternadas por superfícies planas durante quase um quilómetro. Cruzamos-nos com um peregrino e após ver a vieira na sua mochila avisei-o que estava na direcção errada ao que ele apenas me respondeu “Fátima, Fátima”, desejamos-lhe um bom caminho e sorrimos ao ver a sua mochila carregada e a caneca de alumínio a baloiçar, afinal, no dia seguinte começava a nossa jornada “a sério”. Até à estrada Nacional 1 vamos praticamente sempre pela Serra, e terminamos a etapa num monumento que aparenta ser alusivo ao caminho de Santiago, mas engana, trata-se de uma porta que foi preservada da antiga escola primária de Megide.